Ontem quando voltava da casa da Jacque às 21h27min, somos abordadas por dois garotos, um de aproximadamente 16 anos, este ainda sonhava, o outro de 14 não mais. Chegaram tirando um objeto de dentro dos shorts e perguntaram:
- Tia! Quer comprar esse chinelo?
Nossa reação fora imediatamente um NÃO! E o silêncio imperou como uma forma de autodefesa, não por medo deles, mas sim de nós, da nossa covardia, e do descobrimento das falhas e limitações de tudo que acreditamos...
Eles Simplesmente assentaram-se, e um deles acendera um cigarro, e começaram a descrever o furto...
MOMENTO EPIFÂNICO...
"O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença." (Érico Veríssimo)
Poderíamos ter sido indiferentes naquele exato momento e neutralizado este mórbido problema social, entretanto aqueles garotos nos tiraram de nossa zona de conforto exigimos então uma reação, porquanto os olhos deles falavam da perda de uma infância nunca vivida, no entanto a palavras lhes eram totalmente contrarias... Riam e se vangloriavam por terem simplesmente passado a noite em uma delegacia, sentiam prazer como se fosse uma brincadeira pueril. Descreviam sua ex-arma como um brinquedo, como aquele especial que a gente não largava, mas a vida para eles não era uma ilusão, mas sim uma fatídica realidade; sonhavam com o crime, criavam um crime, como uma brincadeira de esconde-esconde. E eles se escondem para nunca mais serem achados. E quem bate a cara somos nós.
(Maristela Campos)